ººººººººZEROFOUNDATION

After WYADWYADN – Entrevista Miguel Seabra

ZERO: Que motivação existe para preferir determinado suporte (vídeo, fotografia, texto, etc.) na conceptualização e execução de um trabalho, nomeadamente neste, em relação a outro. O tema deste trabalho influenciou a escolha do formato? É uma escolha automática ou é calculada?

Miguel Seabra: De início, quando comecei a formular todas as possibilidades que tinha para fazer o projecto WAYDWYADN, sabia que tinha que agarrar o trabalho de forma bastante pessoal e íntima, deveria ser antes de tudo, de carácter autobiográfico e deveria afastar-se de uma estética demasiado conceptual.
O centro da questão – o Nada – perspectiva-se como algo a suspender, como um verdadeiro impasse. Uma formulação de um devir da acção, a contra-acção.
Em Song of the road pretendi recriar um universo de forma narrativa, mais interligado com a cinematografia do que com a videoarte, uma espécie de ‘road movie’. A viagem ao som de uma música, cuja letra vai acompanhando a acção e o detalhe apresentado, noutro ecrã, como desfasamento temporal, um efeito de subjectivação. Os três vértices do filme são a viagem, a montanha e a apneia. Através deste processo mental a escolha do formato começou a fazer sentido, sempre de uma forma calculada. O território dos meus trabalhos é sempre fruto de uma decomposição analítica.

ZERO: Achas que, como suporte para a publicação do teu trabalho, a WEB é uma plataforma eficiente? Achas que seria mais adequada a sua exposição noutras condições?

MS: Eu penso que a web é, sem dúvida, uma plataforma revolucionária na promoção de ideias, que proporciona aos agentes culturais atingir públicos anteriormente inalcançáveis. Na sua vertente mais interessante, que é a experimental, torna-se um canal de comunicação quase sem limites, e, veja-se no que diz respeito a projectos artísticos, o pendor museológico tem vindo a enquadrar-se neste sentido experimental. É possível afirmar que a web trouxe consigo uma espécie de democratização colectiva na oferta de espaço livre para intervir, facto pelo qual ansiámos ao longo dos tempos. Neste projecto em concreto, acho que os meios se adequaram aos fins, com a ressalva de que nenhum monitor LCD consegue transmitir a sensação de presenciar fisicamente uma obra na antecâmara.

ZERO: Sobre o tema do trabalho, WYADWYADN, gostarias de acrescentar alguma consideração?

MS: Quando hmBrito e eu idealizamos este tema, após longos jantares a que se juntaram longas conversas sobre estados um pouco sombrios passados em conjunto, sabíamos que era um mote com qualidades filosóficas e sociológicas muito inquietantes para abrir como primeiro projecto artístico colectivo na zerofoundation. O facto de o tema ser uma condição humana comum, deveria condensar toda a sua complexidade no factor da escolha.

– Miguel Seabra

Informação adicional e contacto: http://miguelseabra.com