HOURGLASS
HOURGLASS (2008) video with narration b&w 0:02:56 ZEROFOUNDATION (Miguel Seabra + hmBrito) Narration: hmBrito + Maria João Castelão “UN-CONTROLLED” (I.M.A.N. 08) Casa das Artes, Famalicão, Portugal |
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He discovered, when given his first watch, he could count the interval of time the hand of the clock takes to travel from one second to the next. The very same capacity showed for calculating subdivisions of time allowed evoking to his memory several elements of a person: the hertzian oscillations of breathing, the sequence of angles executed by the eyes inside their orbits for expressing a determined mood or feeling, the tree-like changes in the vertebral posture due to the effects of planetary gravity, wrinkles appearing and extending like plate tectonics, the ballistic trajectory of fluids launched by the mouth in each spoken phrase and the effects of earth’s rotation when establishing the precise point where they would land and form circular microscopic lakes, the sine wave of a tone, the pitch of each letter, the variations of temperature in a sentence, the waveform of the speech, the cascade of the hair, the synchronized swimming of the hands, the atom vibration aroused by proximity… The being in front of him would never become…permanent. To be so he would need to remember, in static fashion, the statistical properties that composed the person, but the person was, at each second, infinitely unfolding the possibilities of what she could be…billions of billions of images and sounds which had to filed in the billions of infinitesimal shelves between the time the hand takes to travel from one second to the next. |
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HOURGLASS (AMPULHETA) Descobriu, quando lhe deram o primeiro relógio, que podia contar o intervalo de tempo que o ponteiro do relógio demora a percorrer o espaço entre dois segundos. A mesma capacidade demonstrada para calcular as subdivisões do tempo permitia-lhe evocar à memória diversos elementos de uma pessoa: a oscilação hertziana da respiração, a sequência de ângulos executados pelos olhos dentro das órbitas ao expressar determinado estado de espírito ou sentimento, as mudanças arbóreas que ocorriam na postura vertebral, devido aos efeitos da gravidade planetária, rugas aparecendo e esticando como placas tectónicas, a trajectória balística dos fluidos projectados pela boca em cada frase proferida, e os efeitos da rotação terrestre na determinação do ponto em que iriam impactar formando lagos circulares e microscópicos, a onda sinusoidal de um tom, a frequência de cada letra, as variações de temperatura numa frase, a ondulação do discurso, a cascata do cabelo, a natação sincronizada das mãos, a vibração dos átomos excitados por proximidade… O ser à sua frente nunca se tornaria…permanente. Para que isso fosse possível ele necessitaria de recordar-se, num formato estático, das propriedades estatísticas que compõem essa pessoa, mas a pessoa, a cada segundo, desdobrava infinitamente as possibilidades daquilo que poderia vir a ser…biliões de biliões de imagens e sons que tinham de ser catalogados nos biliões de prateleiras infinitesimais entre o tempo que o ponteiro tarda em chegar de um segundo ao outro. |